Diagnóstico de tumores em estágios iniciais pode proporcionar maiores chances de cura e reduzir as sequelas causadas pelos tratamentos de câncer.
Nem sempre um diagnóstico mais precoce de câncer aumenta as chances de cura. Mas, como regra geral, o prognóstico de uma doença localizada costuma ser mais favorável do que na avançada. Por isso, vale a pena ficar sempre atento a alterações no corpo que podem indicar um tumor em desenvolvimento.
Exames de rastreamento
A busca por um diagnóstico mais precoce é o que chamamos de prevenção secundária. Uma das formas de alcançar isso é pela realização dos exames de rastreamento, isso é, exames que visam diagnosticar o câncer muito precocemente, na ausência de qualquer sinal ou sintoma da doença.
Diferentemente dos testes realizados para esclarecer uma suspeita da doença, a maioria das pessoas que será submetida ao exame de rastreamento é saudável. Por isso, esse exame deve ser um procedimento simples, com baixíssimo risco de complicações, acurado, bem aceito pela população e, idealmente, barato. Além disso, ele deve fornecer informações que permitam evitar o desenvolvimento de algum tipo de tumor ou promover um diagnóstico precoce com impacto na sobrevida.
Sendo assim, se a doença não é mais curável no momento do diagnóstico ou se a antecipação desse diagnóstico não aumenta significativamente a sobrevida do paciente, não há justificativa para rastrear toda a população.
A indicação do rastreamento também fica comprometida, nos casos em que os testes para confirmação do diagnóstico podem colocar em risco a vida do indivíduo que não apresenta sintomas.
Esses são pontos importantes, que explicam o número limitado de situações para as quais os exames de rastreamento estão recomendados.
Os órgãos de saúde pública e as sociedades médicas do mundo todo adotam critérios gerais para orientar o rastreamento populacional para vários tipos de câncer. São recomendações que precisam ser ajustadas de acordo com o histórico familiar e pessoal do paciente.
Adaptar as recomendações à realidade de cada indivíduo é o papel do médico, que deve sempre avaliar os possíveis benefícios e riscos relacionados à investigação. Afinal, nem todas as pessoas se beneficiam igualmente dos exames de rastreamento – algumas vezes a investigação pode determinar um risco aumentado para o indivíduo, ou mesmo afastá-lo da solução de problemas mais urgentes.
Por que não rastrear todos os tumores?
O rastreamento se justifica apenas quando é possível identificar com algum grau de certeza um câncer inicial ou uma lesão que pode vir a se tornar câncer. Além disso, é preciso que o diagnóstico seja alcançado sem grande risco para o indivíduo. Por isso, se o método implica em muitos resultados falso-positivos, sua aplicação não pode ser recomendada.
Conheça as doenças que podem ser rastreadas e os exames utilizados para isso:
Colo do útero
O exame de rastreamento do colo uterino é o único recomendado também para jovens. A idade para o início dos testes em mulheres que já iniciaram atividade sexual é 25 anos.
O rastreamento do câncer de colo uterino é realizado por meio da análise de células do colo uterino, em um teste que leva o nome de seu idealizador, o médico grego Papanicolaou.
Nesse exame, busca-se identificar a presença de infecção pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV) ou surpreender o desenvolvimento de lesões que possam evoluir para o câncer no colo uterino. O exame deve ser repetido a cada 3 anos, enquanto os resultados forem negativos. Caso o resultado seja positivo, a paciente deverá ser submetida a uma investigação mais completa.
Mama
Na ausência de fatores familiares e pessoais que indiquem um risco aumentado para a doença, ou de qualquer alteração no exame das mamas, as mulheres devem realizar exames anuais de mamografia.
O Ministério da Saúde recomenda o início dos exames aos 50 anos. O rastreamento deve ser mantido pelo menos até os 70 anos.
Cólon e reto
O rastreamento do câncer colorretal deve ter início aos 50 anos, sendo idealmente mantido até os 75 anos.
Diante de qualquer sinal ou sintoma que sugiram a doença, ou de predisposição familiar conhecida, os exames devem ser iniciados mais precocemente, de acordo com o risco identificado e sempre sob orientação médica.
O exame mínimo indicado para detectar o câncer colorretal é a pesquisa de sangue oculto nas fezes, realizada anualmente, acompanhada de retossigmoidoscopia – um exame de imagem que permite a visualização do interior da parte final do intestino grosso -, repetida a cada 2 a 5 anos. E, caso se observe qualquer alteração em algum desses exames, a investigação deve ser complementada com colonoscopia.
Principais sinais e sintomas do câncer colorretal:
- Sangramento ao defecar ou presença de sangue nas fezes
- Mudanças no ritmo de funcionamento intestinal (diarreia e constipação alternados)
- Vontade frequente de ir ao banheiro, sensação de gases ou distensão do abdome
- Dor ou desconforto abdominal ou anal
- Fraqueza, anemia e perda de peso sem causa aparente.
Próstata
O rastreamento do câncer de próstata é um tema bastante controverso na comunidade médica.
Anteriormente indicado de forma generalizada para homens acima de 50 anos de idade, o rastreamento com exame da próstata (pelo toque retal) e dosagem do PSA (exame de sangue) vem sendo contestado por várias sociedades médicas internacionais, que defendem que seja uma decisão partilhada, na qual os médicos discutem individualmente a possibilidade de realização do exame com o paciente.
Esôfago e estômago
Indivíduos com diagnóstico de esofagite, de refluxo ou outras patologias envolvendo o esôfago e o estômago devem ser acompanhados de perto, de forma a facilitar o reconhecimento de qualquer lesão que possa se tornar maligna. A recomendação do exame endoscópico deve ser individualizada pelo médico em pacientes assintomáticos e sem diagnósticos prévios de doença nesses órgãos.
Cavidade oral
Dentistas devem estar atentos a eventuais lesões na cavidade oral – especialmente em fumantes. Caso encontrem alterações suspeitas na cor ou na textura da mucosa, devem orientar o paciente a procurar um especialista.
Aftas que não cicatrizam, sangramentos que não passam sozinhos ou dor de garganta que persista por mais de 14 dias são sinais que merecem atenção.
Pulmão
Estudos recentes sugerem que fumantes podem se beneficiar de exames de rastreamento, utilizando softwares para analisar as imagens obtidas por tomografia computadorizada com baixa dose de radiação. Entretanto, trata-se de algo novo que ainda não foi adotado como rotina em nosso meio.
Por isso, qualquer exame com esse propósito, fora de um protocolo de pesquisa, precisaria ser discutido com o médico.
Fonte: Saúde – iG @