A doença é a maior causa de infertilidade feminina, mas tratamentos são capazes de reverter esta condição.
Cólica intensa, dor na relação sexual e dificuldade para urinar e evacuar no período menstrual não são normais. Podem ser indícios de endometriose, doença que atinge uma em cada dez brasileiras em idade reprodutiva, de acordo com dados da Comissão Nacional de Endometriose da FEBRASGO. Além de trazer baixa qualidade de vida, a doença é a maior causa de infertilidade feminina. Para esclarecer as dúvidas mais frequentes sobre o assunto, CRESCER consultou o ginecologista e obstetra Carlos Petta, coordenador do Centro de Reprodução Humana do Hospital Sírio Libanês (SP). Confira:
O que é endometriose?
O endométrio é o tecido que reveste a parte interna do útero e que, a cada 28 ou 30 dias, é eliminado por meio da menstruação. A endometriose acontece quando o tecido começa a crescer em outros órgãos, fora da cavidade uterina, como ovários e pelve. Em casos mais graves, pode se alojar na bexiga e no intestino.
Os médicos não sabem ao certo o que causa a endometriose, mas questões genéticas e ligadas à imunidade estão associadas. Estudos anteriores comprovaram que estresse e ansiedade também podem agravar o quadro. Outra coisa que se sabe é que as mulheres, hoje, menstruam 400 vezes ao longo da vida – contra 40 no início do século XX. Isso acontece porque, naquela época, a ala feminina costumava ter um número muito maior de filhos, reduzindo a quantidade de ciclos menstruais ao longo da vida. É por esse motivo que a nova realidade, em que as famílias geram menos descendentes, confere à endometriose o apelido de “mal da mulher moderna”.
Por que ela prejudica a fertilidade?
A relação entre endometriose e infertilidade é direta por dois motivos. Primeiro, porque quando o endométrio começa a crescer em locais como trompas e ovário, há inflamação e consequentemente, um processo espontâneo de cicatrização, o que acaba gerando mudanças anatômicas que impedem o pleno funcionamento das trompas, responsáveis pelos primeiros acontecimentos da fecundação. Além disso, as células inflamatórias podem afetar a qualidade do óvulo e do espermatozóide.
Quais são os sintomas?
Cólica, dor abdominal, retenção de líquido, inchaço, dor durante as relações sexuais, dificuldade para urinar.
Como é feito o diagnóstico?
Um dos grandes problemas da endometriose é que os sintomas se confundem com os que normalmente aparecem no período menstrual, por isso, muitas mulheres só descobrem a condição quando tentam engravidar e não conseguem. Um estudo brasileiro apresentado no Congresso de Endometriose, em 2008, apontou que o período entre o início dos sintomas e o diagnóstico é de aproximadamente sete anos. Quando a queixa começa no início da adolescência, esse intervalo pode aumentar para doze anos.
Reverter o quadro, portanto, também depende da mulher, já que ela precisa ficar atenta aos sintomas. Infelizmente, ainda não há um exame específico para detectar a endometriose. O diagnóstico é feito pela combinação de exames de sangue, ultrassonografia transvaginal e ressonância pélvica. Quando esses exames apontam indícios do problema é feito uma laparoscopia, que é capaz de detectar a doença e já tratá-la no mesmo procedimento.
Como é feito o tratamento em mulheres que desejam ser mães?
O primeiro passo é tratar a doença. Em casos de endometriose leve ou moderada, o tratamento pode ser clínico, com medicamento via oral, injeção ou a colocação de um dispositivo intra-uterino. Porém, quando a doença já está mais avançada, a videolaparoscopia (procedimento cirúrgico) é mais indicada. Se a doença já estiver sob controle, o médico vai avaliar a situação das trompas da mulher e, dependendo do comprometimento da região, a gravidez só será possível por meio de procedimentos de fertilização in vitro.
Mesmo depois da cirurgia, não há garantias de que a mulher conseguirá engravidar?
As chances de fecundação vão depender de uma combinação de fatores, como a gravidade da endometriose, o comprometimento das trompas e da idade da mulher. Se ela passou dos 35 anos, a probabilidade de engravidar diminui bastante e quase sempre é necessário FIV. Para as mais jovens, o índice de sucesso, inclusive de modo espontâneo, chega a 65%. Vale dizer que o Brasil é referência internacional no tratamento e qualidade de vida de pacientes com endometriose.
Mulheres que tiveram endometriose tem gravidez de risco? Pode existir alguma complicação para o bebê?
Independentemente do motivo, mulheres que tiveram dificuldade para engravidar são acompanhadas mais de perto pelos médicos. Porém, não existem evidências científicas que relacionam endometriose com complicações para a mãe e bebê.
Fonte: Crescer – Globo.com