Pesquisa realizada a pedido do Instituto Patrícia Galvão – organização social sem fins lucrativos focada nas questões ligadas às mulheres e seus direitos –, com apoio da Fundação Ford e da ONU Mulheres mostra que o zika vírus é uma grande preocupação das gestantes e que a informação sobre a doença ainda causa muitas dúvidas e aflições.
O Instituto Locomotiva, responsável pela pesquisa juntamente com o Data Popular, disponibilizou link com o questionário sobre o zika vírus na gravidez no site BabyCenter (brasil.babycenter.com), plataforma digital focada em gestantes e mães, com cerca de 4 milhões de usuários/mês. “Em menos de uma semana tivemos 3.155 respostas de grávidas de todas as regiões do País”, conta Maíra Saruê Machado, diretora de pesquisa do Locomotiva, que explica o motivo da demanda do Instituto Patrícia Galvão que resultou na pesquisa: “A questão da reprodução já é uma preocupação deles e o tema do zika ligado à microcefalia passou a aparecer nos encontros. Era importante conhecer a forma como as mulheres estão lidando com isso”.
Para a diretora de pesquisa, a mulher não estava no centro dessa discussão e era fundamental trazê-la para o foco. “A mídia fala dos bebês, da microcefalia, do mosquito, como se não tivesse uma mulher por trás dessa questão toda”, esclarece.
Com o objetivo de entender como a gestação está sendo vivenciada por essas mulheres em meio à epidemia de zika, mapeando o grau de conhecimento sobre a doença, hábitos de prevenção e sentimentos associados à situação, a pesquisa foi realizada entre 29 de junho e 5 de julho de 2016 e os resultados surpreenderam.
Das gestantes que responderam ao questionário, apenas 27% afirma conhecer muito sobre o zika vírus e 75% declara buscar dados sobre a doença e sobre os cuidados que devem ter durante a gravidez. Os canais mais procurados são sites de busca na internet (84%), a TV (71%) e o médico (51%). Quase metade das entrevistadas (47%) aponta o médico como sua fonte preferida para obter informações.
Qualidade da informação
A necessidade premente de conhecimento sobre gravidez e zika vírus fica bastante evidente e aponta que há excesso de notícias, mas não há critério para avaliá-las, questioná-las ou solicitá-las.
Das entrevistadas, 33% declaram que não tiveram qualquer informação sobre zika durante o pré-natal. Uma porcentagem alta para quem está, todos os dias, sendo alvo de dados e notícias desencontradas e, por vezes, alarmistas.
Em resposta à pergunta “Em geral, quando você vê uma notícia sobre microcefalia, qual(is) desses sentimentos você tem?”, 71% das entrevistadas disseram sentir tristeza e 62% afirmaram sentir medo.
Maíra Saruê Machado acredita que as informações que estão chegando às gestantes não têm a qualidade necessária. “Elas não têm uma fonte confiável onde possam validar as informações e ficam abandonadas no meio dessa discussão que é fundamental para quem está grávida nesse momento”, diz. “Ou as informações de qualidade não estão chegando às mulheres ou elas não estão sendo compreendidas”, alerta.
Participação masculina
A pesquisa mostra também que apenas 1/3 das gestantes é acompanhada pelo pai do bebê nas consultas de pré-natal e, sete em cada 10 mulheres, gostariam que o companheiro participasse mais desse processo.
Sobre a transmissão do zika, 97% das entrevistadas têm conhecimento de que a contaminação pode ser pelo aedes aegypti e 45% não associam a doença à relação sexual. Mais um número que aponta para a desinformação. O sexo seguro durante a gravidez é essencial para a gestante se prevenir do zika vírus, porém, apenas 12% das gestantes dizem utilizar o preservativo com o companheiro.
Os resultados mostram ainda que o número de mulheres que não toma nenhuma precaução contra o zika durante a gestação chega a 11%. Por outro lado, 98% diz saber que o uso do repelente é uma das medidas que deve ser adotada, mas apenas 69% utilizam na prática. Sobre os cuidados com a casa, a retirada de focos de água parada foi a medida mais lembrada (91%).
Jornalista responsável: Cássia Fragata
Fonte: Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida – Gravidez em tempos de Zika