Distúrbios de crescimento em crianças

Os distúrbios do crescimento, que muitas vezes passam despercebidos na infância, são muito mais difíceis de serem contornados na puberdade. Veja quais as causas do problema

Quando não estão associados a outras doenças sistêmicas — que atingem o organismo como um todo —, os distúrbios do crescimento praticamente não apresentam sintomas e, por isso mesmo, não chegam a despertar a atenção dos pais.

O mal silencioso pode se mostrar à vítima só na fase escolar, quando as disparidades na altura se tornam mais evidentes. O grande problema é que, como acontece com muitas outras doenças, o diagnóstico tardio também põe em risco a eficiência do tratamento.

“Quanto mais tarde for iniciado o acompanhamento do caso, menores as chances de a criança atingir os níveis de crescimento estabelecidos pelo seu padrão genético. É como se o potencial de desenvolvimento fosse decrescendo com a idade. Na maioria das vezes, é muito difícil recuperar o que foi perdido nas fases anteriores”, afirma a endocrinologista pediátrica Vera Maria Alves Dias, professora da Universidade Federal de Minas Gerais.

 

DE OLHO NA ESTATURA

A recomendação dos médicos aos pais é que, desde o primeiro ano de vida, o bebê comece a ser avaliado em relação ao seu crescimento. O pediatra deve medir e pesar a criança para depois colocar esses dados em uma curva de crescimento. A partir daí, poderá verificar se o desenvolvimento está seguindo o ritmo adequado.

Segundo Margaret Boguszewski, professora de endocrinologia pediátrica da Universidade Federal do Paraná e autora do livro Como nossos filhos crescem (Editora Campus), há um mínimo esperado de aumento de estatura por ano para cada idade. “Se a criança ficar abaixo desses níveis, o médico deve investigar”, alerta a especialista. O profissional poderá pedir exames complementares para descobrir qual, entre as muitas causas possíveis, é a que está interferindo na saúde do paciente.

“O acompanhamento médico com o pediatra, pelo menos uma vez por ano, é indispensável”, garante Carlos Alberto Longui, professor da Unidade de Endocrinologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo. Segundo o médico, muitos pais só fazem esse monitoramento nos primeiros anos de vida do bebê e passam a visitar o pediatra depois só quando a criança apresenta algum problema de saúde. O que acontece é que, nessas ocasiões, a questão da estatura não é lembrada. “Esse é apenas um dos motivos paraque uma criança aparentemente saudável também faça suas consultas de rotina regularmente”, diz.

 

MEU FILHO ESTÁ “BAIXINHO”

A queixa é a segunda mais ouvida nos consultórios pediátricos, perdendo apenas para a dor de cabeça da criançada. Porém, em grande parte dos casos, a baixa estatura dos filhos está relacionada às características herdadas dos pais. “Algumas crianças ficarão menores que as outras, em determinado estágio de desenvolvimento, porque estão seguindo os padrões de baixa estatura da família. Outras, apenas demoram um pouco mais para crescer, o que não significa que tenham distúrbio de crescimento. Essas não precisam de tratamento, apenas de acompanhamento”, explica Vera.

Gabriel Pinto, hoje com 15 anos, foi sempre uma criança com atraso de crescimento considerável, em relação aos colegas. Apesar de ter nascido com tamanho normal, nas consultas pediátricas ele sempre ficava na última linha da curva de peso e altura. Com quatro anos, a mãe resolveu levá-lo ao médico, com a queixa de que era muito magro e miudinho. “O pediatra pediu um raio-X de punho e percebeu que ele tinha uma idade óssea um pouco atrasada. Explicou que o desenvolvimento do Gabriel seria mais lento e que ele não precisava de nenhum tratamento. Até hoje, meu filho é pequeno para a idade, porque ainda não passou por aquele estirão da adolescência”, conta a mãe, Patrícia Pinto.

Nas famílias em que a estatura abaixo da média brasileira é um padrão, o tratamento dos filhos, mesmo sem ser uma necessidade, pode ser considerado como uma opção. O primeiro passo é submeter a criança ao exame de raio-X, que possibilitará ao pediatra fazer uma previsão estimada da altura que ela alcançará na idade adulta. Como resultado em mãos, a família decide se deseja ou não intervir. 

 

HORMÔNIO DE CRESCIMENTO

Alterações na estatura — quando o atraso ou a aceleração no crescimento são considerados patológicos — são, via de regra, provocados por distúrbios hormonais, síndromes genéticas ou doenças crônicas, que a criança adquire no decorrer de seu desenvolvimento.

Mayara Rosa, 16 anos, teve um atraso considerável em seu crescimento por conta de uma deficiência nutricional prolongada, descoberta há três anos. Depois de corrigí-la, ela ainda teve de se submeter a algumas doses de hormônio do crescimento. Desde então, ganhou alguns centímetros, mas continua com um atraso em relação aos jovens da mesma idade.

“Mayara ainda faz acompanhamento médico. O problema é que só descobrimos que tinha algo errado quando ela começou a reclamar que era aúnica da turma que ainda não havia menstruado. Esse atraso no diagnóstico dificulta o tratamento”, conta a mãe, Margareth Rosa.

O número de crianças que usa o hormônio do crescimento sintético, líquido e injetável, é significativo. “A cada dez crianças que precisam de tratamento, pelo menos sete recebem essa indicação”, diz Longui. Algumas apresentam disfunções associadas, como é o caso da Mayara, em que a substância pode ajudar a recuperar baixas de crescimento relacionadas a fases anteriores do desenvolvimento.

 

MUITAS CAUSAS

Outros tipos de deficiências hormonais podem provocar alterações do crescimento. O hipotireoidismo(caracterizado por uma baixa nos hormônios da tireóide) é uma das causas mais importantes de retardo no desenvolvimento. “Esse hormônio regula a maturação do organismo e, por isso, influencia o crescimento. A falta dele leva a um atraso no desenvolvimento, que, em alguns casos, é muito grave”, explica Vera.

O excesso de hormônio tireoidiano também atrapalha e pode levar aum crescimento acelerado. O objetivo principal do tratamento, nesses casos, é regular o funcionamento da glândula, com medicamentos específicos, que devem ser tomados diariamente.

Distúrbios no crescimento também podem estar relacionados a problemas crônicos que atinjam qualquer órgão ou sistema do corpo. “Desnutrição, verminose, anemia, infecções urinárias repetidas e distúrbios de absorção intestinal estão entre as causas mais comuns que prejudicam o crescimento”, afirma Margaret Rosa.

Doenças prolongadas que debilitem o aparelho respiratório, cardiopatias graves e até deficiências renais, entre outras disfunções, terão impacto significativo sobre o desenvolvimento da criança. “Qualquer desarranjo sistêmico cria o que chamamos de desnutrição secundária. Nesse caso, a criança até ingere os nutrientes de que necessita para crescer, mas, pelo mau funcionamento de um ou outro órgão, não consegue aproveitá-los da maneira adequada. Isso leva a uma desnutrição dos tecidos, e o crescimento, obviamente, fica prejudicado”, diz Vera.

Quando há uma doença associada, da qual o crescimento fora dos padrões é apenas um dos sintomas, o paciente deve ser encaminhado para um médico especialista. O tratamento será direcionado à doença de base.

Fonte: Revista Viva Saúde

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