A gravidez da cantora Ivete Sangalo levantou novamente uma importante discussão sobre os preparos para uma gestação múltipla e a tendência delas em casos de reprodução assistida
Dados da Rede Latinoamericana de Reprodução Assistida (RedLara) recentemente divulgados indicam que 32,3% das gestações originadas de tratamentos de reprodução assistida são gemelares, ou seja, de dois bebês ao mesmo tempo. Esse foi o caso da cantora Ivete Sangalo que realizou uma fertilização in vitro devido à idade avançada. A expectativa natural de uma gestação com dois bebês é ainda menor, de 11 em cada 1000 nascimentos. O tema muitas vezes ganha espaço na mídia, mas o que este tipo de gravidez implica em consequências e riscos, para a mãe, para os bebês e para a família?
Os números da RedLara indicam que na América Latina o parto prematuro ocorre em 16,5% dos casos de gravidez auxiliada por métodos de reprodução assistida. Esse número pula para 55% nos casos de dois bebês e aumenta para 76% em trigêmeos ou mais. “O útero da mulher está preparado para conter e abrigar apenas um bebê por 9 meses. Quando este espaço tem de ser dividido, há uma evidente sobrecarga para a mulher”, explica a ginecologista e especialista em reprodução assistida pela Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, Maria do Carmo Borges de Souza.
Para as futuras mães de mais um bebê por vez, os cuidados devem ser ainda maiores. Frequentemente é necessário repouso e afastamento do trabalho. “Isso porque é mais comum a mulher ter cólicas, sangramento, pressão alta ou diabetes durante a gestação. Essas complicações podem trazer consequências também para os bebês, hospedados no útero. Por isso é ainda mais crucial um acompanhamento pré-natal e a busca por uma vida saudável com alimentação equilibrada”, reforça a médica.
Na gravidez, menos é mais
Com essas questões em mente, a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida busca cada vez mais minimizar a possibilidade da gravidez gemelar após tratamentos para auxiliar casais que não conseguiram uma gestação natural. “Os dados da RedLara já mostram diminuição ao longo dos anos, hoje em dia 62,6% das gestações são únicas, 32,2% são duplas e 2,2% de três ou mais bebês. Mas estamos sempre buscando ainda mais a gestação única”, celebra Maria do Carmo.
De acordo com a especialista, a melhor forma de reduzir os números de gravidez gemelar em tratamento de reprodução assistida é por meio da conscientização das clínicas e das famílias. “Já temos tecnologia e conhecimento que nos possibilitam buscar transferir apenas um embrião por vez. É possível, inclusive, uma avaliação genética do crescimento de cada embrião nas incubadoras, para escolhermos aquele com a maior expectativa de “vingar”, como se diz”, conclui.
Conheça os tipos mais comuns de gravidez gemelar
Gêmeos bivitelinos: Em vez de liberar um único óvulo por mês, como acontece normalmente, a mulher libera dois óvulos, que são fecundados por dois espermatozoides diferentes. Apesar de dar à luz a dois bebês de uma só vez, eles podem ser bem diferentes fisicamente e terem até sexos distintos. São conhecidos também como gêmeos fraternos, ou seja, irmãos.
Gêmeos univitelinos: São aqueles que são do mesmo sexo e são muito parecidos. Conhecidos popularmente como gêmeos idênticos. Isso ocorre quando o óvulo, depois de fecundado por um único espermatozóide, se divide em duas partes.